O texto de hoje não é nosso, mas está sendo publicado com autorização! Quem visitou a cozinha do navio Norwegian Jewel em uma travessia do Canal do Panamá foi a senhora Marisa Martins Hädrich, a quem temos o privilégio familiarmente constituído de chamar por Tia Marisa. E, desculpem pelo trocadilho, ela não é marinheira de primeira viagem. Longe disso. Já percorreu quase todo o mundo e fez vários roteiros de navio. E tem mais. Já publicou um livro - Diário Sobre Trilhos (Editora Alcance, 1998) com as andanças pela Europa, toda semana tem crônicas publicadas pelos jornais O Informativo e Agora, de Lajeado e Rio Grande respectivamente, além da revista MotorHome a cada dois meses. Uma inspiração e tanto, para as viagens e para escrever!
Obrigado Tia!
NO ESTÔMAGO DO NAVIO
Quem não deseja conhecer as entranhas de grande navio de cruzeiro? O disponível aos passageiros – teatro, restaurantes, cassino e mais – levam a interrogações sobre os meandros que não se veem.
Onde dormirão centenas de tripulantes e oficiais? Onde estarão os tanques com água para milhares de pessoas? E os equipamentos para lavar e passar a enorme quantidade de roupas de cama, banho e mesa?
A resposta às perguntas parece chegar. Elegante carta do capitão convida para visita, com poucos participantes, aos misteriosos recônditos da cidade navegante.
Vibração. Chega o dia. Pequeno grupo recebe instruções. A maior curiosidade é desvendar o coração do navio: máquinas, motores, turbinas, geradores. Tudo que o impulsiona.
Decepção. O coração é protegido. Proibido chegar perto dele. Questões de segurança. Em compensação, o estômago, as cozinhas – The Galley - é exposto para dissecação.
Não são meras cozinhas. São fábricas de comida, dirigidas por um chef. Restaurantes especializados em comida francesa, italiana, oriental, grill têm suas “fabriquetas”. Olalá, e uma churrascaria brasileira. Espeto corrido. Com carnes assadas no forno elétrico e, depois, espetadas para servir. Fogo é proibido a bordo.
Tudo é superlativo. Nove mil refeições são preparadas por dia, para cerca de três mil passageiros. Os tripulantes contam com cozinha própria.Há setores de entradas, saladas, sanduíches e canapés; alimentos quentes para almoço e jantar; idem, para café da manhã e lanches; padaria/confeitaria 24 horas; sobremesas; cafés e sucos.
O setor de sopas surpreende. Na de cebola, em panelão de mais de cem litros, foi jogado queijo inteiro de uns dez quilos, no caldo fervente. Assim é fácil cozinhar bem.
Os pratos, incrivelmente iguais, são decorados a partir de cartazes fotográficos. E as sobras? Todas trituradas e lançadas em alto mar. Alimentos aproveitáveis são guardados em grandes geladeiras esterilizadas. O lixo seco é reciclado, compactado e descarregado em terra.
Nos navios modernos, toda a água utilizada, obtida através da dessalinização de água do mar, distingue-se pela pureza. É processo caro, mas que garante tranquilidade com a saúde de bordo.
A lista de compras para uma semana inclui, entre outros itens: 5.000 quilos de carne vermelha; 4.000 de frutos do mar; 4.500 de frango; 3.000 de arroz; 11.500 de frutas frescas; 11.500 de vegetais; 5.000 litros de leite; 5.000 de sorvetes; 6.000 dúzias de ovos. Toda compra é coordenada pelo chefe da cozinha e corresponde ao ranchinho para cerca de quatro mil pessoas.
Saí do estômago do navio com o meu satisfeito. Não, não degustei nada. Só de olhar a orgia culinária, fartei-me. E me senti uns dois quilos psicológicos mais gorda.
P.S: Para chocólatras, preparavam bufê, com duzentos quilos da gostosura. Seria servido à noite. Nem compareci. Mas me deliciei no de sorvetes.
Quando fizermos uma viagem em navio, é certo que vamos tentar o possível para ser parte desse tour.
Fotos: Arquivo pessoal de Marisa Martins Hädrich
Marisa Martins Hadrich
Obrigada, queridos sobrinhos. Fizeram linda composição texto-fotos. Foi um orgulho participar desse blog inteligente e competente, como vocês.
Malas e Panelas
Somos nós que devemos agradecer!